BECHOL LASHON Português – Simha e Sasson
Com a vitória dos judeus sobre os seus inimigos, a Meguilá nos informa que “os judeus tiveram luz e alegria (Simha) e regozijo (Sasson) e honra. ” Qual é a diferença entre Simha e Sasson, e como isso afecta a nossa compreensão da mensagem deste versiculo?
Simha: Refere-se a satisfação física. Quando a Torá nos ordena ter Simha durante os Festivais, o Talmud interpreta que isso significa que nós devemos comer carne e beber vinho. A Simha é desfrutada quando temos uma boa refeição. As sete bênçãos do casamento se referem a como Deus providenciou alegria (Simha) a Adão e Eva no Jardim do Éden. Isso também pode ser entendido como a satisfação e o bem-estar físico. Adão e Eva foram fornecidos com o clima maravilhoso e os alimentos do paraíso.
Sasson: Trata-se de alegria, emocional, espiritual. O profeta Isaías compara a alegria de Deus no povo de Israel, com a alegria duma noiva e dum noivo. A alegria (Messos/Sasson) da noiva e do noivo implica uma profunda sensação de sentir-se completo, de ter encontrado um parceiro amado, com quem enfrentar a aventura da vida. Enquanto a Simha é direccionada a mim, Sasson é direccionada ao próximo. Enquanto Simha é um sentimento de contentamento, Sasson é sentir que a vida tem sentido.
Assim, o versiculo na Meguilá pode ser entendido da seguinte forma: Após ganhar sua liberdade contra a opressão, os judeus se sentiram relaxados, as trevas e a melancolia foi removida das suas vidas. Então eles sentiram alegria, Simha. Eles ficaram muito contentes por estarem fisicamente seguros. Em seguida, eles sentiram regozijo, Sasson. Eles atingiram uma maior satisfação espiritual, eles entenderam que a salvação deles tinha significado divino, que as suas vidas tinham um propósito maior. Uma vez que atingiram esse nível de entendimento, em seguida, eles experimentaram “honra” – honra em forma de respeito por eles proprios, bem como a honra de outras pessoas que reconheceram o milagre que tinha ocorrido com os judeus.
No nível Simha, os judeus estão entre os mais educados, o grupo que mais trabalha, e tem maior redito. Embora isso possa explicar o contentamento, não explica a verdadeira felicidade. Para o factor Sasson, os judeus têm uma bagagem cultura importante: a tradição cultural de empenho para tentar melhorar o mundo, de justiça social e responsabilidade. Sasson – a verdadeira alegria – vem por importarmo-nos com as vidas dos outros. Os judeus – sejam eles religiosos ou não – compartilham dessa tradição de ajudar os outros, fazendo caridade, voluntariado para as causas sociais, etc. Penso que este é um factor importante para a felicidade dos judeus. É uma combinação de Simha e Sasson. Uma vez que tenhamos atingido esses dois aspectos, em seguida, passamos à “honra”, onde podemos ter orgulho em nossas realizações, e onde podemos ser reconhecido pelos outros valores importantes que representamos.
A Meguilá nos conta que a festa de Purim foi estabelecida como uma festa para os judeus de todas as gerações. Mardoqueu e Ester disseram aos judeus para dar presentes de alimentos uns aos outros, e de fazer caridade aos necessitados. Que forma impressionante de estabelecer a celebração duma vitória! Não se tratava apenas de comer e beber e ter uma boa festa de comemoração. Pelo contrário, os judeus foram instruídos a compartilhar com os outros, a ajudar os pobres – para lembrar que a verdadeira felicidade pressupõe preocupação e envolvimento na vida dos outros.
A mensagem de Purim, então, pode ser vista como um desenvolvimento progressivo da nossa perspectiva de vida. Primeiro, é preciso limpar as trevas do ódio e da violência do nosso meio, então nós precisamos cuidar do bem-estar material das nossas famílias e comunidades, então temos de reconhecer a verdadeira alegria espiritual que vem com um senso de propósito e significado na vida; então atingir o nível de respeito proprio e respeito aos olhos dos outros para os valores e tradições que representamos.
Feliz Purim. Que este Purim ser um começo para um nível cada vez mais elevado de luz, alegria, regozijo e honra.
*O rabino Eliezer di Martino é o rabino-chefe de Trieste