BECHOL LASHON Português – A Sucá e a nossa vida

DI MARTINOpor Eliezer Di Martino*

Quando pensamos à Festa de Sucot somos enfrentados por um importante paradoxo. A Sucá, a cabana, representa a época da nossa vida neste mundo, porquê o que é uma Sucá? È uma frágil estrutura na qual devemos morar durante sete dias. Vários comentaristas disseram que estes sete dias representam a vida meia do ser humano que é de setenta anos. Isto foi também expresso pelo Rei David, nos Salmos quando disse. “A duração da nossa vida é de setenta anos; e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, a medida deles é canseira e enfado; pois passa rapidamente, e nós voamos.” (Salmos 90, 10). Certamente em circunstâncias favoráveis podemos prolongar a nossa vida até o oitavo dia representado por Shemini Atseret.

Sim, quanto frágil é a nossa vida! Não somente curta mas também insegura! Quando vivemos em boas circunstâncias com saúde e sustento, a vida é uma agradável experiência e assim como a Sucá, parece que nos protege e nos sentimos seguros. Mas quando a vida mostrar seus sérios problemas, reparamos quanta pouca protecção pode nos dar e quanto instáveis as nossas vidas são. Como a Sucá, a vida é muito menos segura daquilo que imaginávamos!

Mais perturbante ainda é o facto que Sucot é considerada a festa que chega ao zénite da alegria e felicidade! Falando de Sucot a Torá diz-nos: “E na tua festa te regozijarás…” (Deut. 16, 14). Isto quer dizer que devemos provar a mais exaltante forma de alegria numa altura na qual moramos numa estrutura que é longe de ser segura!

Efectivamente, a Halakhá é muito clara quando estabelece que a Sucá deve ser construída duma forma que não aguentaria um forte vento, cujo teto não é impermeável e que terá mais sombra que luz. Estas condições deveriam fazer-nos sentir aflitos sendo que a Sucá representa a vulnerabilidade do homem. Então porquê comandar-nos de ser felizes exactamente numa altura quando somos enfrentados por todas estas dificuldades?

A uma outra pergunta para fazer, sendo que a Suca nos ensina sobre os “handicaps” da vida, nos esperaríamos que o interior da Suca também reflecte uma mensagem parecida. Assim a Suca deveria ser priva de quaisquer “conforte”: deveria conter apenas umas cadeiras rotas, uma velha mesa e poucos ferrugentos talheres para comer pão seco.

Invés a Halakhá tem para nós uma grande surpresa. O interior da Suca deve reflectir um estilo de vida muito optimista. Seus frágeis muros devem ser decorados com lindas imagens, quadros e outras decorações. O teto deve-se embelecer pendurando lindas frutas. Deve-se trazer na Sucá a mais linda mobília, se possível uma carpete e cortinas. Deve-se comer na melhor loiça e talheres. A refeições devem ser elaboradas incluindo vários petiscos, acompanhadas com canções, etc. Todo isso parece reflectir uma sensação que diz-nos que este mundo é um lugar extremamente agradável feito para o nosso regozijo e recreação!
Então porquê ao mesmo tempo morar numa frágil cabana?

A mensagem não poderia ser mais explícita: Embora no “exterior” os muros e o teto da Sucá revelam a vulnerabilidade e incerteza do homem, no “interior” destes muros nós deveríamos tornar a nossa vida o mais atractiva possível e aproveitar das suas grandes bênçãos e benefícios.

Sem duvida os muros da nossa Sucá mundana tremam, mas não nos esquecemos que somos obrigados a decorar lindamente o seu interior.

*Eliezer Di Martino é o Rabino-Chefe de Trieste