Eugenio Calabi, 100 anos de ciência
“Um matemático visionário cujo trabalho teve profundas implicações até além do seu campo de estudo.” Poucas palavras, escritas por colegas da Universidade da Pennsylvania, para explicar a importância do trabalho de Eugenio Calabi, que morreu o 25 de setembro passado aos 100 anos. Irmão de Tullia Zevi (uma figura central do judaísmo italiano do pós-guerra), Calabi foi um matemático de renome internacional. Graças aos seus estudos na área de geometria diferencial complexa, ele ganhou prêmios e reconhecimentos internacionais.
Calebi nasceu em Milão em 1923 e estava na escola nos anos em que a ditadura fascista consolidou seu poder. O ponto de virada para a sua família chegou com as leis raciais de 1938. Depois da promulgação, o advogado antifascista Giuseppe Calabi, o pai de Eugenio, decidiu mudar a família para os Estados Unidos, passando pela França. “Meu pai tinha começado a planejar um possível abandono do país por volta de 1936, no final da Guerra Etíope e no começo da Guerra Civil Espanhola, na qual Mussolini e Hitler eram aliados. Quando as leis raciais foram promulgadas, ele decidiu prontamente, da noite para o dia, que tinha que proteger a sua família. Então, no final, chegamos aos Estados Unidos na primavera de 1939”, disse Calabi em uma entrevista de 2019 no Simons Center for Geometry and Physics.
Nessa entrevista, ele contou que também uma intuição paterna o empurraria para o caminho da matemática. “Ele percebeu imediatamente que eu tinha talento para a matemática. Lembro-me de quando estava na primeira ou segunda série tentando memorizar a tabuada. Meu pai me ensinou o que era um número primo e disse: “Seu trabalho é encontrar a lei: os números primos vêm um atrais do outro”. E a pergunta que ele me fazia era sempre a mesma: ‘Você encontrou a lei dos números primos?'”. O jovem Eugenio foi muito mais longe. Com apenas dezesseis anos, pouco tempo depois de ter desembarcado nos Estados Unidos, enrolou-se no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) onde se formou em engenharia química. Em seguida decidiu passar para a matemática. Foi admitido tanto em Harvard quanto em Princeton, e optou pela segunda, onde também obteve o doutorado e voltou para trabalhar como professor. Em 1967 sucedeu ao famoso matemático Hans Rademacher como titular da cadeira de Matemática da Universidade da Pennsylvania, que em 1994 lhe atribuiu o título de professor emérito.
Nesse período realizou as suas pesquisas em geometria diferencial e variedades diferenciáveis a variáveis complexas, com aplicações no campo da física e da teoria das cordas. Trabalhos que o levaram, juntamente com o seu colega mais jovem Shing-Tung Yau, a teorizar a variedade Calabi-Yau.
Para recordar a sua contribuição, ao lado de colegas e estudantes, a presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Noemi Di Segni, que em nome do judaísmo italiano expressou as suas condolências pelo desaparecimento do matemático. Um desaparecimento que, diz Di Segni, deixa “um vazio que só podemos preencher com o compromisso da memória e continuando a contribuir para o desenvolvimento da ciência”.
Traduzido por Annadora Zuanel, aluna da Universidade para Tradutores e Intérpretes em Trieste, estagiárias no escritório do jornal da União das Comunidades Judaicas da Itália – Pagine Ebraiche.